Domingo de Ramos – 2023

 

O ramo é o símbolo da vitória de Jesus Cristo sobre o mal.

E nós, como cristãos, também somos vitoriosos, por isso nossos ramos devem ser levados para casa e deixados em um local de destaque, e quando ele secar, devemos levá-lo à paróquia para que o padre queime-o juntamente com os outros e os transformem em cinzas para serem usados na quarta-feira de cinzas.

 

Hoje iniciamos a semana santa, a semana mais importante para nós católicos, que é revestida de dois aspectos: mistério e memorial. A semana santa é a recordação de um fato que aconteceu há mais ou menos 2 mil anos, que também serve para refletirmos sobre um fato teológico e espiritual muito importante em nossas vidas.

 

Hoje também vimos a versão da Paixão de Cristo escrita por São Mateus que nos faz refleti-la de acordo com sua vivência judaica, onde Jesus nos ensina a mar e a viver em comunidade com a mesma capacidade de Deus, que desde o princípio, criou o homem e a mulher a sua imagem e semelhança para que ambos pudessem experimentar o amor.

 

O pecado quando entra no mundo gera divisão destruindo a capacidade de experimentarmos o amor, com isso, tentamos amar e não conseguimos, tentamos ser amados e não conseguimos e o que nos resta é vivermos no pecado e na alienação mundana. Por isso buscamos o amor nos falsos prazeres, nos bens materiais etc.

 

Deus quis restaurar a humanidade a sua imagem e semelhança escolhendo um povo, no caso, o hebreu, e não sabemos a razão desta escolha, pois é um mistério. Deus constituiu esse povo através de Abraão para que pudesse realizar o seu projeto de amor preparando-o para vinda de Jesus Cristo.

 

Para participarmos da semana santa, somos chamados a entender a dinâmica desse povo e a razão de Jesus ter sido entregue como sacrifício na cruz, pois era tradição do povo hebreu se reconciliar com Deus oferecendo um animal em sacrifício.

 

Então Deus se utilizou dessa cultura para cumprir sua profecia enviando seu filho a ser sacrificado na cruz, no lugar de um animal, para redimir nossos pecados.

 

Por isso Deus atua na nossa história, na nossa cultura, no nosso jeito de ser e na nossa experiência de vida, para nos transformar. E para entendermos esse mistério, é preciso preparamos nossos corações, nossos olhos e ouvidos; e por essa razão, que a semana santa foi precedida de 5 semanas onde o sentido fundamental da quaresma é a nossa CONVERSÃO.

 

Somos chamados à conversão porque todos nós temos um coração de pedra, ou seja, teimoso e egoísta, e esta caminhada quaresmal serviu para que pudéssemos ceder a Deus nosso consentimento para transformar nossos corações, e assim, infundir Seu Espírito para que possamos obedecer e praticar os seus ensinamentos.

Muitas vezes filtramos a palavra de Deus, trazendo para nós somente aquilo que nos interessa, e quando a palavra de Deus aponta para nossos erros, nos chamando à conversão, achamos que ela serve para outro e não para nós. Por isso devemos ser humildes e reconhecer que o que está sendo dito é diretamente para nós e, ao mesmo tempo, estarmos abertos à palavra de Deus.

 

Celebramos a santa ceia na quinta-feira santa porque Jesus antecipa, naquele ano um dia da ceia, que era celebrada na sexta-feira, para que Ele mesmo pudesse ser o cordeiro imolado na cruz, a fim de restaurar o amor em todos nós e o prazer de vivermos felizes como filhos de Deus. Por isso, no momento oportuno, Deus oferece seu filho na cruz e assim se cumpre a profecia. Este é o mistério de Deus.

 

O memorial expressa a ação de Deus continua na história do ser-humano. Significa que, como Deus agiu há 2 mil anos atrás, Ele continua agindo. Jesus sempre confiou em Deus, por isso que sua última palavra na cruz foi: “Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito!” porque sabia que o Pai não o decepcionaria, ressuscitando-o no terceiro dia pela força do Espírito Santo, que continua agindo até hoje sobre todos nós.

 

Como foi dito, Deus quer restaurar em nós o amor, por isso quando lemos a Bíblia devemos nos identificar com os personagens e situações do enredo colocando nossa história nas leituras, inclusive nos evangelhos da Paixão de Cristo porque quem levou Jesus à cruz foram todos nós. E quando caímos no pecado, estamos praticamente desejando a morte de Cristo.

 

Neste contexto também entra Barrabás, um homem que fazia justiça com as próprias mãos, querendo matar os romanos para libertar os judeus da dominação. E quando nos vingamos de nossos irmãos querendo prejudicá-los, estamos agindo como Barrabás – olho por olho e dente por dente, e mais uma vez sendo protagonistas dessa história.

 

Jesus foi quem pagou o mal com o bem e em nenhum momento abriu a boca, para reclamar quando  se iniciou o martírio, porque confiou em Deus. E a mesma multidão que saudou Jesus, vindo em cima de um jumento, foi quem mandou crucificá-lo; mas depois reconheceram que, de fato, Jesus era o Messias.

 

Se a palavra de Deus nos toca e mexe na nossa vida, então valeu a pena Jesus ter morrido por nós. Muitos podem até entregar suas vidas por Jesus, mas ninguém morrerá por você. Por isso devemos responder ao mal com o bem, assim como Jesus vem fazendo até hoje pela humanidade.

 

Para sermos luz de Cristo, devemos abraçar sua cruz e assumir a nossa, porque sabemos que o sofrimento que nós passamos nesta vida não se compara à alegria do amor de Deus que nos transforma, nos cura, nos salva e nos liberta. Portanto todo aquele que assumir sua cruz com Cristo sairá vitorioso porque é agraciado por Deus e receberá a vida eterna.

 

Artigo baseado na homilia de:
Padre Manoel Corrêa Viana Neto.
Diocese de Campo Limpo,
São Paulo – SP