1º Domingo da Quaresma – 2023
Todo ato tem sua consequência.
Na primeira leitura de hoje, a serpente era o mais astuto de todos os animais. Deus havia dito a Adão e Eva para não comerem e nem tocarem na maçã, do contrário morreriam.
E a serpente disse o contrário para eles, que se comessem desse fruto, seus olhos se abririam e seriam como Deus conhecendo o bem e o mal, e então, a mulher acreditou na serpente e caiu na tentação.
Este fruto tinha 3 características muito importantes: era belo ao olhar, agradável ao paladar e concebia o conhecimento do bem e do mau. Essas foram também as 3 tentações que Jesus enfrentou no deserto.
Na primeira tentação, Jesus teve fome e o demônio o encoraja a transformar as pedras em pães, na segunda tentação Jesus é levado para a parte mais alta do templo e o demônio o encoraja a se jogar lá de cima dizendo que os anjos o resgataria; na terceira tentação o demônio oferece a Jesus todos os reinos da Terra se Jesus o adorasse.
Aí está a síntese de toda nossa vida cristã, pois está concentrada nestas 3 realidades. Quando Jesus diz ao demônio: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”, está se referindo à saciedade de nossos desejos físicos e existenciais.
O problema dos desejos é colocar nossas seguranças naquilo que nos sacia momentaneamente, mas depois teremos que ter mais prazer para nos saciarmos novamente, porque nunca estamos satisfeitos com o que temos.
Você pode saciar a sua fome mas, de preferência, com alimentos necessários. Você também pode ter bens materiais, assim como, você também pode ter prazeres carnais, porém, não devemos ser escravos de tudo isso, mas colocar Deus em primeiro lugar. A curiosidade também pode nos leva a escravidão, como por exemplo, vícios; Adão e Eva se tornaram escravos do pecado.
A nossa maior arma na quaresma contra os vícios é o Jejum, que nos ajuda a ter o auto domínio das nossas paixões e do nosso corpo. Nós devemos ser o senhor de nossos desejos e não o contrário. Por exemplo, viver o matrimônio na castidade significa não trair seu esposo ou sua esposa.
Na quaresma, a igreja recomenda fazer o jejum nas sextas-feiras, e não só de pão, o pão simboliza todos os prazeres carnais ou quando, neste caso, não conseguimos ter o auto controle de nossos atos. Por exemplo, tem gente que não larga o celular nem para tomar banho, assim como, tem gente que vive falando mal dos outros pois não reconhece que seus atos são tão semelhantes quanto piores.
A segunda tentação diz respeito à falta de humildade, é quando desejamos ser servidos por Deus, achando que nada deve acontecer de ruim conosco por sermos cristãos. Ou quando fazemos comparações com aqueles que têm suas vidas muito mais prósperas do que a nossa e nem sempre creem em Deus. Tentar Deus é colocar Deus à prova.
Muitas vezes nos servimos da religião para tentar explicar ou encontrar uma solução para os nossos problemas e dificuldades e, quando não o encontramos, nos rebelamos contra Deus deixando de crer Nele. Quando temos mágoas ou traumas de nosso passado é porque não estamos permitindo que graça de Deus faça parte de nossa história.
Nossa história é querida por Deus, por mais dura que ela seja, porque somos amados por Ele. Por isso o cristão deve enxergar sua história através do Espírito Santo.
Quanto a isso, devemos pedir a Deus para que nos restaure, assim como fez com Maria Madalena, é quando nos perdoamos e aceitamos nossos fracassos que muitas vezes, por conta deles, nos odiamos; por isso devemos nos amar assim como Deus nos ama.
Não existe pessoa ruim, existe um mau dentro de nós que, muitos conseguem controlá-lo e outros não. Amar é viver na verdade é não esconder ou omitir nada ao outro. Para eu amar o próximo, eu preciso primeiro experimentar o amor próprio.
Nos momentos de tribulações que passamos, não nos cabe julgar Deus, mas sim nos fortalecer para que futuramente saibamos como lidar com situações semelhantes. Portanto, quando não entendermos o porquê de uma tribulação, devemos dizer a Deus: “Senhor eu não entendo o porquê desta situação, mas eu acredito e sei que tu podes me tirar desta realidade e o que eu posso aprender com ela”.
Assim como a serpente, o demônio nos seduz agindo em nossa razão nos dizendo: “Olha, não é certo ele(a) fazer isso com você, você vai deixar barato?” Aí quando entramos na dele, ele nos humilha dizendo que se não tivéssemos feito nada, não estaríamos nesta situação de desprezo. E continua: “ainda mais você que se diz cristão mas que na verdade não passa de um hipócrita”.
Tem muita gente que vai para a confissão, se confessa, mas continua carregando a culpa no coração porque não aceita ter cometido o erro. O demônio nos jogou na lama, mas Jesus Cristo nos resgatou da lama, tendo coragem de carregar nossos pecados na cruz. Enquanto o demônio nos rebaixa, Jesus Cristo nos exalta.
A terceira tentação é a da soberba, é quando o demônio diz a Jesus que lhe pode oferecer todos os reinados da Terra. Pura mentira, o demônio não tem poder sobre nada. Nesta esfera, o demônio está querendo mostrar a Jesus que este pode ter poder e manipular tudo.
E Jesus o contraria dizendo: “Adorarás ao Senhor, teu Deus, e somente a Ele prestarás culto”. Esta tentação implica em acharmos que devemos ser superiores a tudo e a todos, ou seja, passando por cima do outro não importando as consequências.
Quantos casamentos, por falta de diálogo, parceria, e igualdade mesmo nas diferenças, não foram destruídos porque o marido ou a esposa quis dominar o outro?
E quantas famílias não foram destruídas se não houvesse lutas de poder, como por exemplo, irmãos que quiseram prejudicar o outro por lutas de herança, ou alguns governantes que, quando conquistam o cargo de poder, se tornaram corruptos? É a tentação de ter o controle sobre as coisas.
Tem gente que entra em desespero e fracasso total quando não tem mais o controle da vida do outro. E Deus diz, que nós não somos deuses e não somos superiores aos outros. E São Paulo reforça, que se há um lugar onde devemos ser superiores aos outros, é na caridade.
A caridade implica o amor ao próximo e o perdão se olharmos para o irmão e percebermos que ele é igual a nós porque temos as mesmas capacidades de pecar ou fazer o bem.
Na quaresma devemos refletir três pontos: O jejum, a oração e a caridade. Que nestes 40 dias de preparação à Páscoa, possamos colocar em práticas essas três realidades para nos aproximarmos ainda mais de Deus. Tudo nos é permitido, mas nem tudo convém.
Artigo baseado na homilia de:
Padre Manoel Corrêa Viana Neto.
Diocese de Campo Limpo,
São Paulo – SP.