A Sabedoria | 28º Domingo do Tempo Comum – 2024
“Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!”
Jesus Cristo é a sabedoria do Pai
A primeira leitura, tirada do livro da sabedoria, também nos fala de sabedoria. A sabedoria é criação de Deus e sabedoria é o próprio Jesus. No entanto, Jesus Cristo é a sabedoria do Pai. No antigo testamento já havia um prenúncio de que essa sabedoria é a manifestação de Deus.
Por isso, no livro da sabedoria, o escritor sagrado diz: Eu preferi a sabedoria às coisas do mundo, porque a sabedoria é maior que o ouro, o ouro é como a areia e a prata é como a lama. A sabedoria resplandece a sua graça, multiplica os bens terrenos e os bens celestiais.
Portanto, devemos colocar nossa vida e nossa confiança na sabedoria. Lembremos da figura de Salomão que agradou a Deus por ter pedido sabedoria e, por esta razão, Salomão teve um dos reinos mais pródigos e ricos da história do povo de Israel. Salomão conseguiu avançar o reino de Israel em regiões inimagináveis e construiu o templo de Jerusalém com tudo o que havia de melhor.
Vale a pena conquistar bem terrenos, poderes, posições sociais se nós não tivermos a sabedoria? De que adianta ser rico, ter beleza ou saúde se não tiver discernimento? Ou se escravizar diante disso tudo?
A sabedoria é o próprio Jesus
Somos chamados, em primeiro lugar, a escolher Cristo para termos a sabedoria e, compreendendo isso, Deus será capaz de nos agraciar com tudo aquilo que nos é necessário para nossa alegria e nossa salvação.
No evangelho, temos a figura de um homem que se aproxima de Jesus e se ajoelha diante dele, e naquela época ninguém podia se ajoelhar diante de outra pessoa, a não ser diante de Deus ou então de um rei. Ao ajoelhar-se, o homem pergunta: “Bom mestre, o que devo fazer para conquistar a vida eterna?” Neste momento, este homem está comparando Jesus a um rabino e doutor da lei.
Jesus lhe responde que só Deus é bom, porque sabia que este homem o estava elogiando porque queria algo em troca. A igreja católica nos passou, nestes últimos séculos, que a cultura cristã se resume em um código moral, ou seja, de normas e mandamentos. Por isso muitos acham que a igreja nos proíbe de tudo.
O cristianismo é a igreja do amor incondicional
Devemos frequentar a missa não apenas para não praticar coisa errada, porque somos pecadores e estamos propensos a isso, e isto não é apenas prerrogativa exclusiva dos cristãos, a sociedade já nos impõe regras para evitar isso. Tem muitos ateus que são mais justos do que os cristãos (quem dera se eu também agisse assim).
O cristianismo é a igreja do amor incondicional, na qual devemos fazer o bem sem esperar algo em troca. Não frequentamos a missa apenas para vivermos os valores morais, mas porque fomos convidados por Cristo a fazermos uma experiência totalmente nova e profunda de seu amor.
Deus nos convida, assim como fez com aquele homem, a renunciar o orgulho e o apego, ou seja, se mortificar, que significa parar de pensarmos somente em nós e pensar naqueles que necessitam de nossa atenção. É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no reino de Deus. Com isso os discípulos se escandalizam pensando que nem eles poderiam se salvar.
Somente Deus pode nos julgar
Infelizmente somos especialistas em julgar, sendo que só cabe a Deus esta tarefa, por isso devemos amar nossos inimigos porque não conhecemos sua história, sendo que muitas vezes, ou foram vítimas, ou já se arrependeram ou pagaram por suas faltas e ninguém sabe. E tem muita gente que, mesmo sabendo disso, ainda não os perdoa e ainda se diz cristão.
Julgamos porque dentro de nós experimentamos o fracasso de não sermos bons em vivermos os mandamentos, causando em nós aquilo que chamamos de ressentimento, ódio e inveja. “Como pode aquela pessoa má se dar bem na vida?”
Ao tentarmos tirar o cisco no olho de nossos irmãos, devemos reparar na trave que há em nossa frente. Toda as vezes que julgamos estamos acumulando sobre nós um peso que não vamos conseguir carregar. Deus nos fala que da mesma forma que julgamos nossos irmãos, também seremos julgados.
A vida eterna é um dom gratuito, não apenas porque somos bons ou maus; o reino de Deus é para todos e depende de nossa sabedoria. O homem do evangelho seguia apenas os nove mandamentos, mas Jesus, ao olhá-lo com compaixão, pediu-lhe algo além disso, como o desapego.
Podemos cumular bens mas com sabedoria
Não é errado acumular bens, desde que os usemos com discernimento e não nos apeguemos a eles. A palavra de Deus é mais penetrante do que uma espada de dois gumes, pois ela separa; uma pessoa que usa o discernimento não julga apenas pelo exterior, mas percebe a profundidade.
Por isso, antes de julgarmos as situações do cotidiano, peçamos a Deus a revelação do discernimento. Muitas vezes a pessoa não sabe manifestar seus sentimentos a não ser ferindo outra pessoa, seja gritando ou não. Talvez ela tenha vivido uma situação de gritaria em sua infância ou de falta de afeto e amor (muito comum na vida moderna).
Nossa reação comum é dizer pra essas pessoas: “Chame a polícia!” em vez de tentarmos dialogar com suas famílias e perguntar a razão pela qual esses indivíduos estão ofendendo as pessoas. É importante não esperar respostas do tipo “ele é assim mesmo”, pois isso já indica parte da culpa dos familiares.
Só nos falta uma coisa para recebermos o reino de Deus, assim como faltou para aquele homem do evangelho, obediência a Deus para vivermos na liberdade (1º mandamento: Amar a Deus acima de tudo).
Também é comum nos apegarmos às visões do mundo, por isso muitas vezes seu marido pode estar passando por uma miséria de amor em seu casamento mendigando seu amor; e você, no seu egoísmo, não percebe isso ou vice-versa. A vida eterna é conquistada dando nossa vida ao outro. O que recebeste de graça, de graça deveis dar, e quanto mais dermos mais receberemos.
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Artigo baseado na homilia de
Padre Manoel Corrêa Viana Neto
Diocese de Campo Limpo,
São Paulo – SP.